Uma carta de intenções... ou de coquetéis!
Tudo tem que começar de algum lugar, não é mesmo?
Olá! Esta é a edição número zero da Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais, uma newsletter dedicada a fazer uma tabelinha entre grandes álbuns e bons goles. Se você chegou até o nosso estabelecimento, talvez é porque goste de uma dessas coisas – e espero que seja das duas. Recomendo que você puxe uma cadeira e sente-se no balcão.
Antes de abrir os trabalhos, acho que vale trazer aqui uma carta de intenções, tal qual alguns bares tem sua carta de coquetéis. Meu nome é Bruno Capelas, sou jornalista, moro em São Paulo e há quase duas décadas eu me dedico a escrever na internet, desde blogs adolescentes com letras de música e resenhas de discos até cobrir tecnologia pelo Estadão, onde trabalhei entre 2013 e 2020. Eu fiz jornalismo porque eu queria justamente trabalhar com música – ou, talvez, porque eu achava que mais gente podia gostar das coisas que eu ouvia e precisava de um jeito para comunicar isso. Nem sempre dá certo, mas às vezes dá. Hoje, é muito legal poder dizer hoje no balcão que eu tenho um programa de rádio, o Programa de Indie, em que eu e um amigo podemos passar uma hora por semana tocando música que a gente gosta.
Desde criança, a música foi a minha janela para entender um bocado do mundo, seja criando repertório sentimental, aprendendo sobre política e história ou elevando meu espírito. Não que eu seja a pessoa mais espiritualizada (pelo contrário!), mas eu sempre me espantei pela forma como certas canções, certos discos, tem o poder de mudar como alguém se sente em poucos minutos. Meu melhor exemplo sobre isso talvez seja “The Ballad of El Goodo”, do Big Star – também conhecida entre meus amigos como “a balada do gordo”. É uma canção capaz de me fazer acreditar no melhor mesmo diante de situações difíceis – e não à toa, era sempre a última música que eu ouvia antes de entrar numa sala para fazer um vestibular, hehe.
Quanto à bebida, tive um despertar tardio. Durante algum tempo, tive medo do que o álcool pode causar, tipo perder o celular após beber demais na Augusta ou falar algo errado pro crush. Depois, como acontece ali no começo da faculdade, o álcool era uma ferramenta, seja para perder a timidez ou para aguentar festas em condições de baixa fidelidade. Mas algo me incomodava: não era o meio, mas sim os fins que importavam. Até que, algum tempo depois, eu descobri a beleza que existe numa roda de cerveja entre amigos, que me fez entender tudo isso de uma forma mais saudável. Mas só tive meu momento Eureka quando, no balcão de um restaurante fino com uma ex-namorada, vi pela primeira vez um bartender preparar um drink pra mim.
Eu não sabia exatamente o que beber, e era uma das primeiras vezes que me deparava com essa pergunta, mesmo cansado de ver filmes e séries em que a escolha de um coquetel era um caractere para entender um personagem – sim, Don Draper, eu estou olhando pro seu Old Fashioned.
O bartender perguntou do que eu e meu par gostávamos (“coisas doces e cítricas, nada de amargo”) e foi sugerindo ideias. Pra mim ele errou miseravelmente (a receita sugerida foi uma caipirinha de uva itália, combinação que até hoje me intriga), mas lembro do estalo que foi roubar um gole do Tom Collins da minha companhia. Estava ali algo cujo sabor me agradava, que eu poderia tomar durante muito tempo, sem um travo amargo, e que parecia não existir até o segundo anterior. E cuja receita era tão simples que dava para fazer por conta própria – algo que comecei a praticar com minha ex-namorada nos finais de semana seguintes.
Àquele balcão se seguiram outros, com outros drinks e ingredientes, bem como alquimias caseiras (até hoje me lembro do improvisado Lambreta, uma homenagem ao Sidecar que levava Dreher, licor de tangerina, laranja lima e guaraná). E aos poucos, fui percebendo ali todo um outro universo capaz não só de elevar meu espírito e mudar meu humor da mesma forma que a música, mas também de me ensinar uma coisa ou outra sobre a história do mundo e de como as pessoas vivem. Compartilhar receitas de drinks e mostrar que esse universo era acessível se tornou algo que eu comecei a fazer com amigos, da mesma forma que eu adorava recomendar discos e montar playlists personalizadas.
A junção das coisas, porém, demorou algum tempo para acontecer, quando me deparei com um livro que fazia justamente isso: Booze and Vinyl, dos irmãos André e Tenaya Darlington, pareava lados de discos de vinil com coquetéis famosos (e outros nem tanto), propondo festas temáticas, íntimas ou coletivas. Comprei o livro em 2018, em uma viagem de férias aos EUA, mas ele só achou seu verdadeiro lugar em 2021, quando em meio à segunda onda da pandemia, decidi dedicar domingos ociosos à pesquisa etílica.
Não que isso fosse algo lá muito elaborado: acostumado a beber dentro de um limite específico (quase todos meus drinks favoritos na época envolviam gim ou rum, e só muito raramente vodka), eu comprava uma garrafa de algo diferente e ia explorando os coquetéis inéditos que pudesse fazer com uísque, tequila ou champagne. Os resultados eram quase sempre divertidos, ainda que acabassem quase sempre com uma gigantesca soneca ou uma boa ressaca no dia seguinte.
Aos poucos, comecei a pensar eu mesmo nas minhas junções – de brincadeira, a ideia de juntar discos com drinks começou a virar uma gincana divertida quando eu ia beber com alguns amigos. E de gincana, eu passei a levar a ideia a sério, mas para não ficar na simples comparação, decidi fazer um corte temático. Se o livro dos irmãos Darlington falava só do pop expandido anglófono, minha ideia é a de juntar coquetéis com discos brasileiros (mas não se espante se aparecer aqui alguma coisa de rock argentino ou português, duas das minhas grandes paixões – afinal, os discos são meus, né?).
Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais quer juntar velhos clássicos, pérolas obscuras e novidades com receitas de coquetéis. A cada texto, uma receita, com direito a foto do disco e do drink lado a lado, e alguma piração explicando porque esse par faz sentido. É o tipo de conversa que eu teria se a gente estivesse bebendo junto – e beber junto é muito mais legal do que sozinho, ainda que certos discos peçam lá sua contemplação solitária, é verdade.
Vale lembrar que eu não sou bartender: sou só alguém que gosta de beber, de maneira despreocupada. Isso significa que às vezes a melhor coqueteleira pode ser um vidro de palmito, ou que tá tudo bem em trocar um ingrediente por outro em uma receita se as condições de preparo são limitadas. Às vezes, também vou tentar inventar minhas próprias versões de drinks – cê já reparou que existem muitos coquetéis com Coca-Cola, mas quase nenhum com Guaraná? Tá na hora de resolver isso aí.
(Antes que um amigo que já fez curso de bartender apareça aqui pra me bater, uma nota: bartenders costumam gostar da palavra coquetéis, ou ainda, cocktails, para se referir à mistura de álcool e outros ingredientes em uma bebida só. Mas eu aprendi mesmo a falar que a gente ia “tomar um drink antes de comer”, então é quase inevitável usar as duas palavras como sinônimos. Aqui, vou preferir o jeito despachado ao rigor etimológico, até porque de coisa séria a vida já tem bastante).
Bem, mas por que uma newsletter? Porque eu gosto de escrever – e acho que algumas das melhores newsletters que eu tenho lido por aí (a Coifa, a Margem, a Cuca Fresca) me dão essa sensação de estar conversando com um amigo no bar, trocando dicas e sabendo das novidades. Eu tenho sentido falta de escrever de uma forma mais leve, afrouxando a gravata já no meio da festa. E acho que, justamente por isso, a ideia é não ter uma periodicidade fixa. De vez em quando, vai pintar uma Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais na sua caixa de entrada – como aquele amigo que do nada te chama para tomar um trago e acaba melhorando a semana. E se a gente sentir que vale a pena começar a marcar ponto no bar, é só ir combinando. Sabe como é…
Falei demais, né? Sinto até que o gelo derreteu no copo, mas acho que é por uma boa causa. Mas é isso: em breve, neste balcão, a gente bota a coqueteleira pra chacoalhar e desce a agulha na vitrola. Se você acha que vai dar bom, pode clicar aqui embaixo, colocar seu email e assinar essa newsletter – mas a gente também entende se você preferir só visitar de vez em quando, passando na frente do bar antes de decidir entrar.
O importante é ficar à vontade. Além disso, se você quiser bater um papo, pode mandar um alô no meu email ou nas redes sociais – aqui tá o Twitter, aqui tem o Instagram, e acho que ninguém quer lembrar que o LinkedIn existe quando a gente tá com um copo na mão, certo? Partiu?
Então um brinde pra gente fechar essa primeira fatura direitinho: saúde!
Até a próxima!
Um abraço,
Bruno Capelas
PS: Esta edição foi escrita ao som de Crosby, Stills, Nash & Young e Zé Rodrix. Saúde, mestres.
Adoro seus textos Capelas. Muita sorte! PARABÉNS ❤️
Maravilha! Já assinei e recomendei!