Hoje tem, mas acabou
Confesso: não deu tempo de escrever a newsletter. Mas deixo aqui um convite especial de um santista e os reclames de sempre para não perder o bonde
Só pelo título já deu pra sacar que essa semana eu vou vir aqui de conversinha fora do combinado, né? Pois é: às vezes os compromissos se somam, a vida pede outras prioridades e não dá tempo de ter nossa conversa no balcão. Como diria o mestre Paulinho da Viola: “me desculpe a pressa, é a alma dos nossos negócios” – ao que eu espero que vocês respondam “ó, não tem de quê, eu também só ando a cem”. (Se você não conhece o clássico “Sinal Fechado”, eu recomendo demais a versão do Chico Buarque, que outro dia fez seus 80 anos e já foi celebrado aqui com um glorioso Macunaíma).
Eu já contei que tenho trabalhado demais e que tenho tentado reduzir o ritmo. Está dando certo, mas alguns dias andam mais cansativos que os outros. (Ter uma carga horária significativa de futebol na TV também não ajuda – e confesso que hoje sinto uma leve abstinência da Eurocopa me acompanhando, mesmo que seja no volume mudo). E a verdade é que não sobrou tempo pra escrever a newsletter da quinzena. Eu prometo que volto na semana que vem com mais novidades.
Mas enquanto estamos aqui, vim aproveitar para distribuir alguns convites e reclames. O primeiro deles é um negócio que muito me orgulha.
Quem acompanha essa newsletter há mais de ano provavelmente sabe o quanto eu amo os Pullovers, uma banda indie aqui de São Paulo que cativa muito alguns sortudos corações que se depararam com o clássico Tudo Que Eu Sempre Sonhei, de 2009. Quem também está na estrada comigo há algum tempo sabe que eu sou santista e como foi sofrida pra mim a morte de Pelé, no final de um dezembro de 2022 que dá vontade de esquecer – e que começou com a morte da minha tia, que eu também desabafei aqui no balcão com vocês. Por coincidência ou não, são três edições das quais eu me orgulho demais na história da Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais.
O que eu não imaginava é que as três se entrelaçariam em um só texto. Mas se juntaram quando o Luiz Venâncio, vocalista do Pullovers, me convidou pra escrever um texto de apresentação pro seu primeiro livro, Você Não Quer Ficar Sozinho. É um romance bacana sobre paternidade e masculinidade, sobre o Santos e também sobre terapia, música, literatura, crescer em São Paulo e uma série de outros temas que me são muito caros. Talvez por isso, eu acabei demorando algum tempo pra escrever o texto – que só entreguei no dia seguinte à queda do Santos pra série B. Ele começa mais ou menos assim:
O que faz a gente escolher um time de futebol? Das grandes decisões que tomamos na vida (uma profissão, onde morar, alguém para casar), essa provavelmente é uma das primeiras que quase todo brasileiro tem de tomar. Muitas vezes, essa é uma escolha quase inconsciente ou até mesmo dirigida – atire a primeira pedra quem nunca explicou que torce pra tal time porque “meu pai torce também”. Nem sempre essa capitania hereditária do futebol funciona automaticamente, como se pode ver no livro que começa daqui a algumas páginas, mas… o que me deixa maluco é pensar nas consequências que essa decisão tão impensada pode trazer pra vida de cada um.
Porque escolher um time de futebol no Brasil não é apenas escolher um emblema, um grupo de jogadores, um estádio. É escolher um ethos, um conjunto de regras pessoais, traços e modos que vão nos perseguir pela vida inteira. Cada time tem seu ethos e não acho que seja à toa que as duas maiores torcidas do Brasil sejam mesmo Flamengo e Corinthians. O time rubro-negro do Rio é o símbolo da marra e da malandragem, tão presentes no jogo de cintura nacional e tão necessárias para a sobrevivência nesta terra. Já o alvinegro do Parque São Jorge é autointitulado “maloqueiro e sofredor”, e se você é brasileiro e não se identifica um pouco com esses dois adjetivos, talvez seja melhor rever seu RG.
Já eu lido desde os anos 1990 com as muitas dores e raras delícias de ser um santista – uma equipe cujo ethos é ser praticamente incapaz de ganhar um campeonato se não estiver jogando no ataque, com um estilo de jogo bonito e envolvente. Se alguém inventou o slogan “joga bonito” pro futebol brasileiro, o Santos tem uma culpa enorme nisso. Ao contrário do Corinthians ou outros rivais, o Santos parece viver o destino trágico de ser incapaz de vencer jogando feio, na retranca, quase mais empatando que ganhando. Mais que isso: ao tentar fazê-lo, invariavelmente sofrerá derrotas históricas e temporadas de marasmo. (O Campeonato Paulista de 2006, com Geílson como símbolo, é a exceção que confirma a regra).
Ser santista é nascer sob o signo de admirar a raridade das coisas belas e entender que nem sempre a gente vence, mas que cada vitória, quando acontece, é bonita que só. É uma característica que carrego comigo em outros campos da vida. No bar, consigo explicar perfeitamente porque torcer pro Santos me faz automaticamente achar Beatles a melhor banda de todos os tempos. Ou porque vestir uma camisa toda branca, com duas estrelas douradas no peito, me fez gostar de rock alternativo e preferir as bandas de letras miúdas nos cartazes de festivais às grandes atrações. (Não acho que seja à toa também que a capa de um dos discos mais maravilhosos do mundo, o Grand Prix do Teenage Fanclub, também seja toda em preto-e-branco…)
Pra quem quiser saber como essa história continua, tem que ver no livro. Por sorte, o lançamento é nesta nesta quinta-feira, dia 27, em uma noite de autógrafos especial no Bar Exquisito, aqui em São Paulo, na rua Artur de Azevedo, 2079, em Pinheiros – pertinho do Metrô Faria Lima ou Fradique Coutinho. Além da presença do Luiz, o evento ainda vai ter pocket show do Pullovers e, se o tempo colaborar, estarei lá vestindo minha camisa branca com o 10 do rei Pelé. Pra quem só ler depois ou não puder comparecer, dá para comprar no site da Dolores Editora, aguerrida casa que publica só livros relacionados ao belo esporte bretão.
No mais, aproveito também pra deixar aqui as duas últimas edições do Programa de Indie, com destaque para o enorme episódio sobre Agaetis Byrjun, segundo disco do Sigur Rós que é um dos álbuns da minha vida. Ah: a partir de agora, também estamos em todas as plataformas de podcast, e não apenas no Spotify – então se você não apoia o Daniel Ek, procura a gente no seu app favorito.
Também deixo aqui os vídeos do excelente show do Black Pantera, talvez a banda de rock mais importante do Brasil na atualidade, no Sesc Pompeia, no último dia 13 de junho.
No mais, é isso aí. Hoje o bar tá fechado pra balanço, mas voltamos em breve com mais novidades. Prometo que vai valer a pena – e até deixo aquele maroto botão pra você se inscrever aqui. Não precisa pagar nada não, viu?
Um abraço,
Bruno Capelas
Anda faltando o futebol como meio interpretativo de nossas vidas na Terra Brasilis. Novos cronistas, de tutano literário, hão de surgir, espero!