Diário de Viagem: 8 lugares pra beber em Montevidéu
Um guia rápido para bons traguitos na capital uruguaia, onde vermute e cerveja podem ser tão gostosos quanto o vinho tannat.
Aqui na Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais, a gente cumpre o que promete: depois de quase um mês viajando pelas duas capitais do Rio da Prata, nada mais justo do que aparecer aqui com um guia rápido de lugares legais para beber em Montevidéu, a capital do Uruguai. (Para você que tá esperando as dicas de Buenos Aires, segura aí que logo logo elas vem, eu prometo!).
Antes das dicas de bares (e das histórias específicas que eu vivi em cada um deles), algumas ideias rápidas e disclaimers. A primeira é que todos os coquetéis e drinks dessa viagem foram pagos pro conta própria, e as escolhas dos lugares que eu fui foram puramente pessoais. A segunda é que Montevidéu não é exatamente uma cidade barata para o bolso brasileiro atualmente – o câmbio de R$ 1 para 7 pesos uruguaios engana bastante na conta, sendo difícil comer à noite na capital uruguaia por menos de R$ 60 ou R$ 70. A terceira é que essa lista não é exclusiva de coquetelaria, também incluindo vários lugares para beber cerveja ou um simples vermute. (Afinal de contas, o Uruguai é o país que me transformou em um velho vermuteiro e fã de azeitonas enquanto tira-gosto de bebidas). Última coisa? Não tem vinho, pelo simples fato de que eu manjo muito pouco de vinho e estava focado.
🥸Olá, olá, olá! A Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais é uma tabelinha entre grandes álbuns e bons goles.
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Além de bons tragos, vale mencionar que vários desses locais também tem comidas bacanas – e saco vazio cheio de cachaça não para em pé. Pelo menos eu acho que era assim o ditado originalmente. Dito tudo isso, vamos aos bares – pra todos vou deixar endereço e Instagram, cabendo a você fuçar no Google horários de funcionamento e tudo mais (afinal de contas, quem lê essa newsletter é gente esperta e aberta, né?).
Montevideo al Sur
Raros são os lugares que juntam tantas coisas que eu costumo gostar em um só local – e talvez por isso o Montevideo al Sur encabeça essa lista. Sediado em um bar que remonta aos anos 1930, a casa une ao mesmo tempo aquele espírito de boteco velho, cheio de móveis de madeira, e uma carta/atendimento modernos, mas sem grandes afetações. Cheguei no balcão de mármore tentando me refugiar da chuva por volta das 18h e saí completamente virado das ideias lá pelas 22h, depois de várias doses de bons vermutes uruguaios, aproveitando um excelente happy hour 2x1.
Além dos vermutes, vale ficar de olho na carta de drinks assinada pela Gina Corti, bartender da Patagônia com quem fiquei batendo um papo excelente sobre a importância da coquetelaria clássica – outro forte do Montevideo al Sur, vale dizer, é o “clássico rotativo”, em que Gina escolhe um coquetel das antigas e subestimado para apresentar aos convivas. Da carta dela, tomei o fresquinho Brisa del Mar (290 URU, cerca de R$ 37) – um coquetel com vinho malbec, vermute, suco de laranja e xarope de gengibre que, se tudo der certo, não demora a pintar aqui.
Endereço: Paraguay 1150, Barrio Sur
Instagram: @mvdalsur
Destilería Capicua
O Montevideo al Sur foi uma feliz descoberta, mas que tinha sido recomendada por vários e vários guias de coquetelaria local. Já o meu outro bar favorito da viagem foi um caso clássico do flanêur: andando pela Ciudad Vieja, onde fiquei hospedado (o bairro do porto da capital uruguaia, próximo ao centro e um pouco vazio mas não inseguro no período noturno), passei pela frente da Destilería capicua enquanto voltava do meu primeiro jantar no Uruguai. O logo diferente e o fato de ser não um bar, mas uma destilaria me chamaram muito a atenção. Voltei na noite seguinte e acabei descobrindo a história do lugar, que abriu já no pós-pandemia e tem como um dos donos o brasileiro Duda Carvalho, que mora há uma década em Montevidéu.
A Capicua é fruto daquele tédio pandêmico: trancado em casa, Duda e seus amigos começaram a testar receitas caseiras de gim e vermute, e a parada deu tão certo que virou bar. Além de ótimos gim tônicas (com os três tipos diferentes de gim da marca) e os vermutes literalmente da casa, eles tem ótimos coquetéis, como o Gin Paradise – que leva gim, maracujá, hortelã e canela em pau incandescente, lembrando muito o nosso querido Porn Star Martini. Os drinks variam de 250 a 380 pesos uruguaios (R$ 30 a R$ 50, aproximadamente), o que pode deixar a noite salgadinha, mas vale a pena. Última coisa? Vira e mexe tem festinhas/DJ/bandas na casa, além de quadros de um artista de rua local – se não fosse o começo da viagem, juro que tinha comprado um do Charly García pra mim.
Endereço: Pérez Castellano 1364, Ciudad Vieja
Instagram: @destileriacapicua
Álvarez Bar
Também na Ciudad Vieja e do ladinho da Capicua está o Álvarez, um lugar que aqui no Brasil fatalmente ia receber o nome de gastrobar – afinal, tem bons tragos aliados a uma cozinha bem bacana. Fui lá três vezes e nas três saí com a barriga sorrindo, com destaque especial pra empanada de queijo e cebola (R$ 130, quase R$ 20) e para a fainá, uma espécie de massinha frita de grão de bico com aioli e homus de beterraba – ambas “tunadas” pelo forno a lenha que os caras têm na casa.
Além da comida, o Álvarez tem cervejas da Cabesas Bier, uma marca artesanal do Uruguai que foi se tornando mainstream e tá espalhada pelos bares (tipo uma Colorado que não foi comprada pela Ambev), vermutinhos bacanas e coquetéis clássicos. É uma ótima opção pra quem quer comer bem enquanto bebe ou precisa de uma carta polivalente para agradar diversos gostos.
Endereço: Pérez Castellano 1404, Ciudad Vieja
Instagram: @alvarezuy
Cervecería Mastra
Pioneira quando o assunto é cerveja artesanal no Uruguai – um país que tá uns dez anos atrás do Brasil em termos de “revolução cervejeira”, com muitas marcas ainda só fazendo uma ou outra IPA diferentona, sem arriscar em estilos como sour ou stout –, a Mastra é capaz de ir pouco fora da curva nesse sentido. Antes da pandemia, eles tinham várias cervejarias espalhadas pela cidade, mas agora tive que esperar até o último dia de viagem em Montevidéu para encontrar a loja deles no Mercado Agrícola.
Não se engane pelo nome: apesar da cara rústica por fora, é um lugar mais produzido e chique que o Mercado Municipal de São Paulo. Depois de passar a manhã no Palácio Legislativo, aproveitei pra almoçar lá uma ótima bondiola (espécie de sobrepaleta de porco, bem gostosa) com purê de batata doce. No acompanhamento da refeição, bebi duas cervejas deles: uma IPA bem gostosa, mas regular, e a excelente La del Mercado, que parecia um strudelzinho líquido, com maçã e canela na receita. Salivei só de lembrar, bicho.
Endereço: José L. Terra 2220, Aguada – dentro do Mercado Agrícola de Montevideo
Instagram: @cervezamastra
Indica Beer
Também na Ciudad Vieja, a Indica Beer é o que eu chamaria de ótimo desvio num rolê turístico nível superior. Explico: ela fica apenas a uma quadra de distância do Mercado del Puerto, ponto turístico meio que obrigatório mas enganador de Montevidéu, onde muita gente vai para comer uma carne saída diretamente da parrilla. A Indica não tem parrilla, é verdade, mas tem comidas bacaninhas e uma porrada de cervejas diferentes – a que eu tomei e ilustra este post era uma IPA à base de arroz chamada Pasta La Vista Baby, com um gostinho razoável de melancia.
Doidera? Pois é, nem me fale – e olha que o lugar tem também espaço pra shows e outras paradas. Todos os pints custam URU 200 (quase R$ 30), já os half-pints são URU 150 (cerca de R$ 20). Ah, última coisa, mas super importante: nas paredes, tem duas citações de respeito. Uma é do beer hunter Michael Jackson e está logo acima. A outra vem de uma das maiores inspirações dessa newsletter, Anthony Bourdain: “Seu corpo não é um templo, é um parque de diversões. Aproveite a viagem.” Saúde!
Endereço: Piedras 288, Ciudad Vieja
Instagram: @indicabeer_uy
Bar Tabaré
Criado como um armazém em 1919, no que antigamente era o distante bairro de Punta Carretas, o Bar Tabaré hoje pode ser bem confundido com um restaurante de bairro – daqueles em que famílias se reúnem semanalmente e os clientes são conhecidos pelo nome. É por aí, mas o lugar também tem lá sua alma boêmia e um espírito coletivo delicioso. Além disso, é preciso dizer que eu tenho muito, mas muito respeito por lugares que estão há décadas – às vezes, até mais de um século – deixando gente bêbada.
Passei por lá para dar um descanso aos pés depois de uma caminhada pela orla montevideana, com direito a caminhar até o farol do bairro. Eu deveria ter tomado um trago, mas tomei mesmo a boa cerveja Cream Ale que leva o nome do bar – e de quebra, ganhei um bom papo com o bartender que me serviu, que, entre outras coisas, contou que o shopping ali do bairro era uma antiga prisão de onde José ‘Pepe’ Mujica fugiu não uma, mas duas vezes. Daquelas histórias doidas que só podem ser encerradas com um bordão: gracias a Díos nací en Latinoamérica!
Endereço: J. Luis Zorrilla de San Martín 154, Punta Carretas
Instagram: @cafe_bar_tabare
Malafama
Confessa: você leu o nome dessa cervejaria e começou a cantar “La Fama” da Rosalía, né? Eu também. Mas vamos lá: Malafama é o nome dessa cervejaria com dois significados. Um deles é prosaico: os donos da cervejaria estavam um dia fazendo festa até altas horas, a polícia chegou e disseram que eles estavam ficando com má fama na vizinhança. A outra é mais séria: os colonizadores espanhóis diziam que os nativos uruguaios também tinham “malafama”.
Assim como a OPB, mais abaixo, a Malafama é uma cervejaria artesanal de pegada mezzonacionalista, mas um pouco mais ousada em termos de sabores e ideias. No espaço deles, que me lembra bastante a Fermentaria da Trilha em São Paulo, tem forno a lenha pra comer pizza de massa fina (devorei uma inteira de mussarela!) e boas cervejas – minha favorita foi a Tás Loco?, uma New England IPA (NEIPA) bem gostosa.
Endereço: Maldonado 1970, Parque Rodó
Instagram: @cerveceria_malafama
OPB (Mercado Ferrando)
Mercados gastronômicos são uma febre em Montevidéu – e o Mercado Ferrando talvez seja um dos mais agradáveis deles. Localizado em Cordón, bairro bastante central, mas ao mesmo tempo, em boa parte residencial, ele reúne parrillas, hamburguerias e outras paradas de comida global & moderna. Já o OPB – sigla para Orientales, la Patria y la Birra, inspirado no herói nacional José Artigas – nasceu como um beer truck e aos poucos foi se transformando em loja fixa.
Ali, tem mais de 15 torneiras de cervejas próprias e convidadas, além de tragos de vermute (direto da torneira!), vinhos e grappamiel, mistura de grapa com mel que também não deve demorar para aparecer em alguma receita aqui. Nas cervejas, tomei a ótima IPA Naranja, da cervejaria Malaky, mas de sobremesa eu bebi um grappamiel que me deixou avoadinho, quase perdendo o jogo de futebol do Nacional. (Aliás, fica a dica: ver futebol no Uruguai é um negócio de loco, imperdível mesmo. Vai atrás se passar por lá).
Endereço: Chaná 2120, Cordón – dentro do Mercado Ferrando
Instagram: @beertruckopb
Bônus Track: Café Brasilero
O Café Brasilero (assim mesmo, sem I) não é exatamente um boteco. Embora ele até tenha vinhos e tragos na carta, ele é realmente um café – não daqueles hipsters com avocado toast e matcha, mas um café clássico, cheio de móveis de madeira e os tiozinhos de sempre. Sua inclusão nessa lista se deve a dois motivos importantes. O primeiro é que é um ótimo lugar para beber um café e comer uma medialuna, uma das 3 melhores da viagem (e olha que aqui incluo a passagem de 20 dias por Buenos Aires). Já o segundo é que era o café de predileção de gente como Eduardo Galeano e Mario Benedetti – que se sentava bem onde está o senhor grisalho da foto abaixo.
Agora, fica o aviso: o almoço deles é meio qualquer nota, então o negócio é mesmo pra ir tomar um café – provavelmente, aproveitando para dar descanso ás pernas em um rolê pela Ciudad Vieja. Ali do lado também fica o bacaníssimo Museo Torres García, onde, entre outras coisas, dá pra ver a gravura original daquele mapa que uma galera tem como tatuagem.
Endereço: Ituzaingó 1447, Ciudad Vieja
Instagram: @cafebrasilero.uy
Ufa, é isso? Nada disso: ainda tem reclames da semana, vamos lá!
No Programa de Indie da semana passada, eu e Igor Muller atualizamos as novidades, em um dos melhores programas que a gente fez recentemente – com direito a The National, Boygenius, Águas, Black Country New Road e Wednesday.
No último final de semana, passei calor, comi muito tambaqui e bebi boa cerveja Louvada em Porto Velho, onde fui cobrir o Festival Casarão para o Scream & Yell. Nos três dias de festival, rolaram ótimos shows de Black Pantera, Maglore, Ratos de Porão e Terno Rei, além do mestre Diogo Soares fazendo um manifesto amazônico bonito pra caramba. Confere lá no Scream, o dia 1, o dia 2 e o dia 3, com fotos, vídeos e textos de quem vos fala. No YouTube, também tem todos os vídeos numa playlist bacana.
Além disso, vale contar que passei um tempinho no Web Summit Rio essa semana – onde além de encontrar amigos e influenciar pessoas, também bati um papo com o Thibaud Lecuyer, CEO da startup brasileira Loggi. Chique, né?
Pra fechar e ninguém dizer que eu não falei das flores de música, duas dicas rápidas de dois excelentes discos uruguaios pra ninguém botar defeito: Eco, do Jorge Drexler, e o sessentista e doidinho La Conferencia Secreta del Toto’s Bar, do Los Shakers. Dá o play aí.
Um abraço e até semana que vem,
Bruno Capelas
PS: Este texto foi escrito no silêncio do Leme, Rio de Janeiro, onde a Marília Marasciulo me hospedou nos últimos dias. (Além de ser uma pessoa incrível, Marilia também me inspira demais nesse rolê de ser freelancer, e faz reportagens incríveis pra veículos como Galileu e Rest of World – fica a dica se você precisar de uma repórter/produtora/escritora boa pra caramba).
PS2: Foi difícil não salivar escrevendo esse texto, ainda mais tomando só um chá. Mas é tudo por um bom motivo: passar um dia inteiro sem beber depois de semanas entregado ao rolê. Afinal de contas, como diria o poeta, um pouco de droga, um pouco de salada.
PS3: Pra quem tá com saudade de música brasileira por aqui, calma: semana que vem a gente volta.
PS4: Além desses rolês todos de beber, algumas dicas rápidas sobre Montevidéu: Palácio Legislativo é massa, Museu Nacional de Artes Visuales é bem foda (e de graça!), o museu do futebol no Centenário não é tanto, mas vale a visita. Pra pegar uma vista boa, vai no Mirador de la Intendencia (tambémde graça). Pra fuçar antiguidades, Fería de Tristan Narvaja é uma boa pedida. Um museu de arte bacaninha é o Espacio de Arte Contemporaneo, outra antiga cadeia. E pelo amor de Deus: vai ver um jogo de futebol e não deixa de tomar casquinha do McDonald’s sabor dulce de leche. Você vai me agradecer, aposto.
Lindo relato! Sou apaixonado pelo Uruguai, infelizmente ainda não tive a a oportunidade de viajar pra lá. No futebol, me simpatizo com o Nacional (acho que você também, né?). Abraço!