Ando pensando muito sobre copos de água.
Não exatamente o copo meio cheio ou meio vazio – como diria o Gil, é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar. Mas sim sobre uma ideia de moderação. Uma das lembranças mais fortes que tenho do meu curso de sommelier de cervejas não é necessariamente das cervejas em si, mas sim da água e do pãozinho que tomávamos em meio a cada degustação. Eles tinham ali uma importância dupla: não só serviam para limpar o paladar, mas também ajudavam a garantir que não chegássemos bêbados ao final da classe. (Quase sempre deu certo). Da mesma forma, também respeito demais os bares que oferecem água de maneira gratuita aos convivas, em uma lembrança de que o equilíbrio é importante.
Também tenho tomado muita água recentemente, não só porque está calor e é preciso se hidratar. Mas também porque descobri que a água é um ótimo amigo da boa saúde, um hábito que eu ando tentando cultivar este ano. Não foi por querer: depois dos muitos problemas gastrointestinais nos últimos meses, percebi que precisava de uma alimentação mais moderada, com um pouco menos de droga e um pouco mais de salada. Tem dado certo: já perdi alguns quilos e retomei algumas velhas camisetas de bandas do fundo do armário. Também me sinto um pouco melhor fisicamente. E tenho bebido menos. O que nos leva ao tema dessa carta de hoje – mais uma vez, a boa e velha “carta de retorno” pedindo desculpas que não tenho escrito por aqui.
🥸Olá, olá, olá! A Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais é uma tabelinha entre grandes álbuns e bons goles.
🎶Para ver os discos e drinks que já publicamos, use o índice.
🍸Para saber que bebidas usar, também use o índice.
🥃E se você precisa de ajuda pra montar seu bar, tem guia de compras de utensílios e de garrafas básicas aqui. Saúde!
⛱Tá de férias e precisa de ajuda pra improvisar uns drinks? Vem aqui.
💸Se quer uma ajuda para comprar seu bar básico, aqui tem minha listinha de indicações na Amazon.
↪E clicando no botão abaixo, você dá um golinho desse texto pra quem quiser!
É engraçado: reli todas as missivas que fiz nesse estilo nos últimos dois anos e pouco, no tempo que essa newsletter existe. E em todas elas, falo muito sobre a busca por equilíbrio – entre trabalhar demais e ter um pouco de paz, entre beber mais ou menos, entre beber A ou B. É dos temas que mais aparecem na minha terapia. O que talvez eu tenha demorado a perceber é que o equilíbrio da vida não é exatamente uma proporção matemática que vá se manter constante, como a fórmula de um Negroni. Na real, o equilíbrio da vida está mais para um Dry Martini, que a cada vez que a gente bebe pode ter uma proporção diferente entre suas diversas partes (incluindo até uma água de azeitona ou alcaparra para dar um tchan a mais).
Sei que é filosofia de boteco, mas me perdoem a falta de prática: tenho frequentado poucos balcões e mesmo em casa a coqueteleira não anda sendo muito usada. Não é falta de vontade, mas uma boa precaução. Em alguns dias, por conta dos remédios: no meio de junho, meu terapeuta sacou que a preocupação com o equilíbrio da vida andava pendendo para um lado mais pessimista. Ele reacendeu o sinal amarelo que por outras vezes já tinha aparecido: “talvez você deva conversar com uma psiquiatra”. Em outros momentos, soube “escapar” desse lugar, mas senti que dessa vez o buraco era mais embaixo. Diagnóstico oficial: depressão.
Não acho que seja à toa: muitas vezes, passo boa parte do meu tempo trabalhando escrevendo sobre mudanças climáticas ou inteligência artificial – dois temas que parecem nos fazer lembrar de que o fim está próximo. Olhar as páginas de política ou de economia também não tem ajudado muito. E há semanas em que simplesmente as notícias ruins parecem superar em muito as boas, em que os problemas cotidianos, emocionais e familiares parecem tomar conta. Ah ah, são coisas da vida…
De partida, confesso que não exatamente queria tomar remédio pra cabeça. Talvez por já estar tomando uma série de remédios para outros tratamentos, com eficácia variada. Talvez por ter visto, ao longo dos anos, uma série de amigos recorrerem a eles e sempre reclamarem de algum aspecto perdido pelo meio do caminho – o tesão, a capacidade de se emocionar, de chorar com uma canção bonita. Mas depois de passar uma semana me remoendo, senti que era o caminho possível.
Desde junho, tenho cá convivido com meu antidepressivo, em suaves 10mg por dia. No começo ele não me deixava beber e me dava sono. Hoje, vivemos uma amizade pacífica, que ainda me dá alguns poucos efeitos colaterais. Brinco que o remedinho é minha Série B, em uma metáfora com o Santos: é responsável por fazer a gente passar por uma reconstrução. Modéstia à parte, acho que estou jogando melhor que o time nada criativo do Carille, e torço para que nós dois subamos para a primeira divisão em breve.
Se o Santos não anda lá jogando um futebol vistoso, eu até posso me orgulhar do que tenho feito nos últimos tempos. Para começar, preciso dizer que o Programa de Indie nunca esteve numa fase tão boa: sinto que eu e o Igor temos gravado alguns dos nossos melhores programas recentemente, alcançando novos públicos e superando os percalços que tivemos no começo do ano. Há mais de dez programas novos que gravamos desde a última vez que escrevi aqui, mas se posso sugerir apenas dois que valem a orelhada, segue aqui:
Também tenho escrito bastante para o Scream & Yell: não só cobrindo festivais como o Coala e o Se Rasgum, mas também entrevistando o Ecos Falsos e conferindo uma série de shows pela capital paulista – destaco aqui, entre muitos, a bela exibição dos Lemonheads no Cine Joia. E ainda na esfera “cultural”, também tenho visto muitos shows bacanas e registrado lá no canal do YouTube – de Eric Clapton ao tributo a Marília Mendonça, de Olivia Byington a Bebel Gilberto e Ludovic.
O trabalho tem me ocupado bastante, com as já clássicas colaborações para Cajuína, bem como textos para revistas como Exame e GQ Brasil, além das muitas coisas que não conto por aqui por não contarem com meu nome assinado. Não posso reclamar de falta de dinheiro, nem que o remédio me deixou embotado, porque a produtividade anda em dia. E esse dinheiro até me deu paz de espírito para viajar, curtindo uns bons dias de farra em Belém e em Soure, na Ilha do Marajó – um destino que merece e muito ser explorado. (Se tudo der certo, até o final do ano prometo um guia de lugares para beber no Pará).
Por muito tempo, relutei em voltar ao balcão e fazer promessas – tal como aquele amigo que some e promete no retorno que estará lá no bar na semana que vem. Se escrevo agora, é porque tenho a fé (não há palavra melhor) que poderei regressar. Tem muita coisa bacana pra contar, muito disco pra ouvir e muitas alquimias pra gente beber junto. Mas antes, vamos tomar mais um copo d’água para deixar o corpo hidratado.
Um abraço,
Bruno Capelas
Antidepressivo, se eu conhecesse antes tinha tomado antes. Minha maior burrice na vida foi não ter ido ao psiquiatra antes dos 30.
:D