Diário de Viagem: 10 lugares para beber em Belém do Pará
Minhas dicas de bares, botecos, restaurantes e algo mais em uma das cidades mais incríveis e saborosas do Brasil – e que merece demais ser visitada a qualquer hora
Confesso que ainda conheço pouco o Brasil – uma meta da qual venho tentando cuidar lentamente ao longo dos últimos anos, buscando juntar festivais de música com alguns dias de turismo. Mas arrisco dizer uma coisa: poucas cidades podem oferecer tanto para quem quiser beber (e comer, claro, porque botecar é sinônimo também de encher a barriga) do que Belém. Fui à capital paraense pela primeira vez em 2023, enquanto me recuperava de uma crise gastrointestinal forte, e mesmo sem poder me embebedar ou esbanjar à mesa, fui feliz com garfo, faca e copo na mão. Neste ano, ao voltar para o Se Rasgum 2024, tratei não só de me deliciar com o que faltou, como também voltar vivo para contar para vocês.
Assim como nos guias de bares que escrevi sobre Montevidéu, Buenos Aires e São Paulo, esta lista não tem a pretensão de ser um manual ou ranking completo. Pelo contrário: serve mais como dica de amigo, aquele toque afetivo de alguém que fala “pô, vai lá em tal lugar”, buscando compartilhar felicidade. Tal como em Montevidéu e Buenos Aires, a lista não é exclusiva de bares de drinks, tendo ainda restaurantes, cervejarias e até botecões para encerrar sua noite com uma porção de charque do lado. Só não tem sorveteria porque apesar de ser incrível, a Cairu não tem sabor alcoólico – mas tem que ir lá pelo menos uma vez por dia enquanto estiver em Belém! (Até o Lula já provou, diga-se de passagem).
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O que se lerá a seguir é também um relato muito específico de uma viagem deliciosa de 10 dias que fiz, ao lado de grandes amigos, entre Belém e a ilha de Marajó – de onde deixo uma dica bônus track ao final do texto. Em especial, deixo aqui meu abraço ao Adriano Costa, o imperador de Castanhal, companheiro em todos esses bares. Adriano não só me recebeu de braços abertos em Belém, como também foi um dos patrocinadores espirituais deste retorno da newsletter.
Didico, espero que cê goste dessa aqui <3.
Muamba Bar
Localizado na aprazível Vila Container, um amontoado de… bem, contêineres que reúne não só propostas gastronômicas divertidas, como também uma fatia da beautiful people belenense, o Muamba Bar é talvez um arquétipo do que se poderia esperar de um bar de coquetelaria na capital paraense. Criado pelo bartender local Yvens Penna, o Muamba não traz só os clássicos da mixologia a preços acessíveis, como também os mistura a ingredientes locais de maneira muito despretensiosa, sem inventar moda – tudo isso com cadeirinha de madeira e vento na cara.
Bons exemplos disso são o Urucum Pisco Sour, que recria o coquetel andino com o urucum, o Banzeiro, uma espécie de New York Sour com cachaça e espuma de gengibre, ou o Ariramba, que traz gim de jambu, mel e cheiro verde (leia-se: coentro) em um delicioso contraste. Os coquetéis sem álcool também são um charme – em 2023, sem poder beber, consumi a carta inteira, e confesso que quase pedi de novo o Maracujaia (maracujá, cumaru e espuma de gengibre). Outro ponto massa do Muamba: parte da decoração do lugar são as próprias receitas dos coquetéis escritas em azulejos brancos na parede, o que é ótimo pra quem quiser se inspirar.
Endereço: Av. Gov Magalhães Barata, 62 - Nazaré
Instagram: @muambabar
Meu Garoto
Há alguns anos, ela era exótica e extravagante. Hoje, já dá pra dizer que se popularizou e caiu no gosto da galera tilelê de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas hype nenhum vai ser capaz de tirar a força da cachaça de jambu, uma invenção que diz a lenda – e aqui imprimimos a lenda – nasceu no Meu Garoto, pelas mãos do dono e “alquimista” Leodoro Porto. Não fosse a cachaça de jambu e seus poderes de tremor medicinal, talvez o Meu Garoto nem estivesse aqui na lista: é mais um glorioso boteco de esquina, com boas porções e cerveja gelada.
Mas só talvez: não só a cachaça de jambu é uma grande criação por si só, como ela também tem diversas variações – como a linha Jambucy, que mistura a bebida a outros ingredientes locais, como bacuri, açaí, cupuaçu e, claro, castanha do Pará. Essa última é minha versão favorita: tem um gosto adocicado que ressoa a um Amaretto, mas mais selvagem. Para os mais fortes, há ainda a recente criação da batida de milho verde, que no bar ainda é acompanhada de um singelo caldinho. E se for pedir uma porção, vá na unha de caranguejo, um petisco local com massa de coxinha, mas com a vantagem de ser… bem, com carne desfiada de caranguejo. Ah, vale o aviso: do lado do bar, tem também uma conveniente lojinha para garantir uma garrafa de souvenir para a pessoa amada.
Endereço: R. Sen. Manoel Barata, 928 - Campina
Instagram: @botecomeugaroto
Cervejaria Cabôca
Por falar em unha de caranguejo gostosa, a Cervejaria Cabôca tem a melhor que eu provei ao longo das minhas duas estadas em Belém. Não só: a farofa de charque e a vasta maioria dos petiscos que experimentei no local fizeram um carinho gostoso na barriga. De quebra, vale dizer ainda que é um dos prédios mais legais da cidade: um casarão antigo restauradíssimo, em frente à turística Estação das Docas – uma espécie de Puerto Madero belenense, com a vantagem de ter preços bem mais em conta e ficar do lado do incrível Ver-o-Peso.
Mas estamos falando de cerveja, e a Cabôca não decepciona: tem boas opções de entrada para quem ainda está se acostumando com o universo da cerveja artesanal, incluindo IPAs, APAs e sours interessantes. O destaque da noite que fui recentemente, porém, era a Guajará Cyclon, uma IPA em colaboração com a paulistana Dogma, que fez o paladar dos convivas tremer. Ah, fica o aviso: o lugar fica lotado em dia de jogo e também costuma ter música ao vivo. E a Cabôca também é fácil de encontrar enlatada nos supermercados, caso você seja cervejeiro e queira um souvenir diferente para pôr na mala.
Endereço: Blvd. Castilhos França, 550 - Campina
Instagram: @cervejariacaboca
Cervejaria Uriboca
Se o destaque da Cabôca são as instalações e a gastronomia, a Uriboca (não confunda!) tem seu foco mesmo na cerveja. A lousa é pequena, com normalmente cinco torneiras, mas vale a visita: uma das criações da cervejaria do bairro de Umarizal, a Azedinha Cupuaçu e Cumaru, foi eleita a melhor cerveja da etapa Norte da Copa Cerveja Brasil de 2024. Mais que isso: é uma das sours mais elegantes que eu provei no Brasil, daquelas que dá vontade de beber de balde. E não é cara.
No mais, preciso dizer que há opções de comida no local (mas não provei) e que a decoração tem lá um quê de casa de vó, com cadeirinha de praia e música brasilidades tocando no som. Ótima para um fim de tarde ou para um daqueles dias em que você só quer beber de maneira despreocupada. Dá também pra levar growler para beber no hotel, caro turista.
Endereço: R. Bernal do Couto, 579 - Umarizal
Instagram: @cervejariauriboca
Amazon Beer
Para fechar a trilogia das cervejarias locais, é difícil não citar a Amazon Beer. Pioneira na arte de incorporar ingredientes da região às cervejas artesanais, a Amazon já viveu dias melhores no que diz respeito à qualidade das suas criações. Mas merece a citação não só pelo ineditismo de cometer uma stout com Açaí ou uma sour com Bacuri, mas também por sua localização, dentro da turística Estação das Docas – que também tem não só um, mas dois quiosques da Cairu!
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O que significa que talvez você pague um valor um pouco acima do preço pelas comidas lá (especialmente na comparação com a Cabôca, que fica na frente). Por outro lado, é a chance de beber um chopinho bem bacana olhando para o rio Guamá, algo bastante aprazível na hora do pôr do sol. Vira-e-mexe, também tem happy hour por lá, o que deixa o chope em valores bem atraentes. Mas fica o aviso: se for “só” pela cerveja, atravesse a rua.
Endereço: Estação das Docas - Blvd. Castilhos França - Campina
Instagram: @amazonbeer
Azo Drinks
Se o Muamba tem uma vibe descompromissada ao ser um bar de coquetelaria local, não se pode dizer o mesmo do Azo Drinks: no bairro de Nazaré, o lugar tem um clima de speakeasy tão intenso que, dependendo da hora do dia, é até difícil enxergar lá dentro – o que lhe valeu o apelido de “bar de amante”, claro. Os preços não são tão atraentes quanto os do Muamba, mas a execução dos coquetéis – entre clássicos e, claro, criações autorais – é extremamente correta, para não dizer sofisticada.
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Da carta que provei, em setembro de 2024, ambos por R$ 44 (!), gostei muito do Porn North Martini – uma recriação do Pornstar Martini com cachaça, taperebá, priprioca, limão e espumante – e do Combucuri, que mistura bourbon, avelã, bacuri, limão e cacau do Combu, em uma combinação inusitadíssima, mas extremamente deliciosa. As porções de comida são bem interessantes, mas vale o aviso: são pequenas, como manda o figurino de bar de primeiro encontro.
Endereço: Tv. Benjamin Constant, 1321 - Térreo - Nazaré
Instagram: @azo.drinks
Remanso do Peixe
Talvez o nome mais famoso da lista, o Remanso do Peixe é uma instituição paraense que ganhou o Brasil e, quiçá, o mundo, graças à sua segunda geração – foi entre panelas e peixadas que cresceu Thiago Castanho, um dos mais famosos chefs brasileiros da atualidade. Mas a história do Remanso do Peixe é mais antiga, remontando a um restaurante de família criado por seu Chicão, pai de Thiago, que cresceu de maneira muito especial e que tem pratos de fazer todo mundo ficar com água na boca.
Na minha última visita, uma turma de seis pessoas dividiu um pirarucu defumado, uma moqueca paraense e uma caldeirada de filhote – três pratos de peixe incríveis, cada um à sua moda, antecipados por ótimos bolinhos de piracuí. Pra fechar, teve ainda um excelente tiramisu de bacuri. Mas… e a bebida? Bem, a bebida pode ser a boa Tijuca local, mas o que faz o Remanso do Peixe estar nessa lista é o Jambu Sour – cachaça de jambu, limão, xarope de açúcar, clara de ovo e angostura –, um coquetel inesquecível para abrir apetites e corações. Ao lado da Cairu, é visita obrigatória quando em Belém.
Endereço: Travessa Barão do Triunfo, 2590 - Bairro do Marco
Instagram: @remansodopeixe
Ver-a-Cerva
De volta às cervejas, deixei o Ver-a-Cerva separado porque apesar de ser um ótimo destino cervejeiro, ele é um pub multimarcas – e em muitos casos, oferecendo rótulos que estão disponíveis não apenas em Belém, mas no Brasil inteiro.
É uma boa pedida para quem gosta de provar vários estilos de cerveja ao mesmo tempo, além de ter um dos happy hours mais generosos durante a semana, com não raras promoções de 2 por 1. Aqui, também vale dizer que os petiscos são bem gostosos, combinando clássicos de boteco com frituras locais, como bolinho de maniçoba e porções de filhote.
Endereço: R. dos Mundurucus, 2020 - Guamá
Instagram: @veracervabelem
Hoppy Pig
Para quem sabe inglês, o nome do estabelecimento já diz quase tudo: porco lupulado. Aqui, nada de pensar em peixe ou jambu – o negócio do Hoppy Pig é carne, de porco de preferência, e cerveja artesanal.
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Talvez não seja o foco da maioria dos turistas quando visita a capital paraense, mas caso bata uma saudade de algo menos típico, é uma baita pedida: por lá, além de boas cervejas, também conferi uma ótima coxinha de pastrami. O cardápio, óbvio, também está repleto de opções como costelinha, linguiça e, claro, muito bacon.
Endereço: R. Domingos Marreiros, 446 - Umarizal
Instagram: @hoppypig
The Beatles
Deixei o melhor para o final. Ou, pelo menos, o mais inesperado. À primeira vista, talvez o The Beatles nem pareça uma opção óbvia: é um botecão de esquina servindo cerveja industrializada e porções generosas, mas não necessariamente incríveis. Mas foi não só o último bar que visitei em Belém, como talvez aquele em que fui mais feliz. Há vários motivos para isso.
Primeiro, por ele ficar aberto até altas horas – cheguei lá por volta das 3h da manhã, depois de uma noite dançando muito brega e carimbó no festival Sons do Rio, capitaneado pelo ícone local Félix Robatto. Segundo, porque é para lá que “todo mundo” vai no fim de noite, naquele melhor espírito de bar curva de rio. E terceiro, porque não importa a hora, a pista é comandada pelo dono do bar, com a mão na agulha da vitrola, pinçando clássicos da discoteca que forra o local, em meio a pôsteres dos Beatles, da Jovem Guarda e de ícones do rock. Guardo no coração a hora em que fui pra pista e estava tocando “Porque Brigamos”, de Diana, seguida por petardos do Clube da Esquina e Rita Lee. Incrível demais.
Endereço: R. Cesário Alvim, 660 - Jurunas
Instagram: @barthebeatles
Bônus Track: Solar do Bola (Marajó)
Marajó não é Belém. Mas queria compartilhar com vocês que dar um pulo na maior ilha marítimo-fluvial do mundo não é tão difícil quanto parece: Soure, a principal cidade do Marajó, está a 3h de barco de Belém, em uma confortável viagem. E chegar lá é a oportunidade de não só ver búfalos e conhecer um pedaço inesquecível do Brasil, mas também de provar o excelente queijo local, usado em sanduíches, sorvetes e pratos como o filé marajoara – carne de búfalo e queijo de búfalo em uma posta só.
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O melhor filé marajoara que comi foi no Solar do Bola, um dos principais restaurantes de Soure, acompanhado de arroz e cebola puxada na geleia de cupuaçu. No Bola também comi pizza de caranguejo e pizza de camarão (!), além de uma das melhores caipirinhas de jambu da viagem, com um delicioso toque de hortelã que a deixou próxima de um mojito. De quebra, ainda aproveite para trocar uma ideia com o Bola, o chefe que comanda a cozinha há décadas – e emprestou o restaurante para locação de Psica, série que vem aí na Netflix com direção de Fernando Meirelles.
Endereço: R. Oitava, 872 - Matinha, Soure (PA)
Instagram: @solardobola
Reclames da Quinzena
Juro que não foi de propósito. Mas na última semana, eu e o parceiro Igor Muller conversamos no Programa de Indie com os Boogarins pra falar justamente do novo disco deles, chamado Bacuri. Na semana anterior, teve ainda uma porção de novidades de novembro bacanudas. Chega mais!
No Scream & Yell, cobri uma trinca de shows bacanas de bandas gringas em novembro, com Travis, Keane e Vaccines. Também conferi o show da estreante Madre, e o papo que eu e Igor Muller tivemos com Fran Healy, do Travis, ganhou sua versão texto no site do Marcelo Costa (que deveria começar logo uma newsletter!).
Saiu essa semana também uma das reportagens que eu mais gostei de escrever em 2024: uma matéria para a Zumbido, a revista do Selo Sesc, sobre como deficientes auditivos vivem a música – de grupos de percussão formados só por instrumentistas surdos a tradutores de libras que fazem bonito em grandes festivais. Cola na área!
Enquanto isso, no YouTube, tem vídeos novos de Liniker e Lianne La Havas, que abriram o show de Lenny Kravitz no Allianz Parque, bem como do lançamento de Maria Beraldo, Colinho, ontem no Sesc Pompeia.
Espero que essa seleção esteja boa e que nenhum paraense venha aqui me chamar de gala seca.
Um abraço,
Bruno Capelas
PS: Este texto foi escrito ao som de dois clássicos da música paraense: Tamba Tajá, de Fafá de Belém, Banzeiro, de Dona Onete, e Lobo, do Molho Negro. Com tanta cachaça de jambu e licores mil que eu trouxe na mala, espero que os três pintem aqui em breve.
PS2: O que eu fiz acima é um roteiro etílico-gastronômico de Belém, mas está longe de estar completo. Uma boa visita à cidade precisa passar por pontos turísticos obrigatórios, como o Mercado Municipal Ver-o-Peso, a Estação das Docas, o parque do Mangal das Garças (das coisas mais bonitas que vi nos últimos anos), o Mercado de Carnes Francisco Bolonha e a Bienal das Amazônias. Tem que ir também passar um dia na ilha do Combu, passeio pra ficar de boa, beber cerveja e comer tambaqui na brasa – minha recomendação é a Casa Combu, mas talvez seja difícil não ser feliz por lá. E conhecer o Forte do Presépio, no complexo da Feliz Lusitânia, que tem um lado histórico importante de Belém (e uma bela vista pro Veropa). Ufa!
PS3: Pena que não deu tempo, nesta visita, de conhecer a Curuzu e ver o Papão jogando. Mas na próxima com certeza vai dar <3.
PS4: Enquanto escrevo este guia, me preparo para zarpar para BH na semana que vem. Será que vem aí mais um guia de bares? Acho difícil, considerando a concentração de bons botecos que existe na capital mineira. Mas vamos tentar, vamos tentar…
Eu dei um grito quando li o título no meu email, eu estou indo para o Belém dia 30/12 e fico até dia 10/01 e com uma janela aberta no computador procurando onde ir e o que fazer e vc em entregou já otimas sugestões. Agora se não for pedir muito queria dicas de lugares para ouvir música, ja que não consegui ir no festival e conheço pouco da música paranese