Beco das Garrafas: que bebidas trazer na mala da Argentina e do Uruguai?
Entre Fernet, vermute e licores, tem muita coisa legal pra justificar o excesso de bagagem ao voltar dos nossos vizinhos – e de quebra, ainda tem também uma lista de lojas de discos em Buenos Aires!
Eu sei, eu sei: Beco das Garrafas mesmo fica só em Copacabana e a trilha sonora é bossa nova e samba-jazz, não tango ou candombe. Mas gostei tanto do nome – do qual me apropriei pro guia pra explicar quais garrafas toda adega deveria ter – que vou transformá-lo em seção fixa desta newsletter, uma espécie de apêndice básico para momentos de consulta, extravagância ou diários de viagem.
Se você está chegando agora e não leu as últimas edições da Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais, fica o aviso: fiz um périplo recente pelo Uruguai e pela Argentina, somando mais de um mês de viagem. Nas últimas semanas, eu trouxe dicas de bares e restaurantes legais para beber un traguito em Montevidéu e também em Buenos Aires, e agora decidi fechar essa sequência de textos com outro guiazinho. Afinal de contas, espaço na mala serve pra trazer discos e garrafas, não é mesmo?
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Pois bem, vamos lá: neste texto, conto o que eu trouxe na mala (e que me fez pagar excesso de bagagem na Aerolíneas Argentinas) dessa gira latinoamericana para reforçar minha adega. Este texto serve também como uma espécie de spoiler do que pode vir por aí na newsletter – dado que ainda sigo afetado por novos sabores, novas batidas, novas pulsações. Além disso, decidi também compartilhar algumas dicas de lojas de discos de vinil em Buenos Aires, caso você esteja disposto a adquirir novos bolachões por lá. Disclaimer final, mas que eu já fiz em outras ocasiões: não vamos falar de vinho por aqui, ok?
Las Botellas (as garrafas!)
Rapidinho, um último conselho: melhor lugar pra comprar bebida na Argentina e no Uruguai é em supermercados. Na Argentina, fique de olho nas lojas da rede Coto – bom, barato e um pouquinho desorganizado. No Uruguai, as redes Frog e Ta-ta costuma estar em altos cantos. Vale ainda pesquisar nos quioscos e tendinhas de bebidas espalhadas por aí – nunca vou me esquecer de uma em Villa Crespo que se chamava X-Tragos. ¡Ah, el humor!
Fernet Branca
Se tem uma garrafa que vale a pena trazer da Argentina, é Fernet Branca. Não só porque é um sabor típico de lá (ainda que o Fernet seja mesmo italiano), mas também pela diferença de preço. Lá, uma garrafa de 750 ml custa entre R$ 35 e R$ 50, enquanto aqui não é difícil achar a mesma botella por cerca de R$ 200. Duas garrafas na mala e pronto: você já compensou qualquer tarifa de excesso de bagagem – e pode curtir em paz receitas excelentes como Macunaíma e o querido Fernet con Coca, aprovado até por Papa Francisco.
Fernet Branca Menta
Irmão mais excêntrico do Fernet Branca, o Branca Menta é também um amaro bastante forte, mas com a presença da hortelã entre os ingredientes – o que dá todo um charme a uma bebida já cheia de charme. Uma garrafa de 750 ml também vai custar o equivalente a algo entre R$ 35 e R$ 50.
Vermute Carpano Rosso
Essa garrafa aqui veio na mala por acidente, eu juro. Numa determinada noite, o plano era sair com a Anna Vitória – mas ela pegou uma gripe forte durante a viagem e decidimos ficar em casa. Eu queria beber um vermutinho e aí a solução foi… pedir uma garrafa via delivery, que eu acabei nem abrindo. Carpano é uma marca italiana e aqui no Brasil só se vende o importado da Europa, mas na Argentina o consumo é tanto que tem fabricação local – e por isso, uma garrafa custou a bagatela de R$ 20. É igual? Não dá pra dizer que sim, mas não faz feio, muito pelo contrário.
Vermute La Fuerza Sideral
Na semana passada, falei do La Fuerza, destilaria-bar que vende os próprios produtos – e que produtos, bicho. O vermute do La Fuerza, além de cuidado na fabricação que evita a ressaca, também tem uma suavidade bem interessante. O La Fuerza Sideral é a linha especial deles: um vermute rosso com toques de ervas e casca de laranja, bem gostoso. Paguei R$ 70 na garrafa – um bocado acima do preço de vermute de mercado na Argentina, que é bem gostoso, mas excelente se você considerar que uma garrafa de Carpano no Brasil custa pelo menos uns R$ 120.
Hesperidina
A garrafa mais legal que eu trouxe na mala, sem dúvida. Hesperidina é um licor típico argentino, feito a partir de cascas de laranja – mas com gosto diferente do nosso bom e velho triple sec. Inventada por um americano em 1864, a Hesperidina fez tanto sucesso que passou a ser muito falsificada, de maneira que se tornou a primeira marca registrada da Argentina. A garrafa também é linda: bojudinha e cheia de detalhes. Durante um tempo, a Hesperidina virou bebida de velho, mas hoje ela está passando por um revival – e a garrafa não custa mais que R$ 40 nos supermercados da vida. Mas vale o aviso: tem que batalhar um pouco pra conseguir achar, porque não é todo lugar que vende.
Tía Maria
Assim como o Carpano, outra bebida italiana muito consumida na Argentina é o licor de café Tía Maria – que também conta com fabricação local. Por isso, a garrafa sai entre R$ 20 e R$ 30 nos supermercados locais, enquanto aqui no Brasil a versão importada da Itália raramente fica abaixo dos R$ 120. É uma ótima pedida pra quem quiser um licor pra beber sozinho ou pretende se aventurar em receitas com gostinho de café – como o Revolver, um coquetel com bourbon, café, xarope de açúcar e bitter de laranja que tá tardando para aparecer aqui na Meus Discos.
Pimm’s
Da Argentina eu também trouxe um negócio que há muito tempo despertava minha curiosidade: uma garrafa de Pimm’s. De origem inglesa (e muito consumida na terra do Rei Charles), é uma bebida mista que tem um destilado base, além da presença de frutas e ervas – sendo costumeiramente usada como a base para ponches. O que varia sempre é o número do Pimm’s, sendo que cada número indica o destilado base. O que eu comprei, por uma bagatela de R$ 20, é o número 1, com gim – e fabricado na Inglaterra. Pra referência, aqui no Brasil eu nem sei bem como achar uma garrafa de Pimm’s (sinal de que, se achar, vai custar caro).
Grappamiel Vesuvio
Essa aqui e a próxima garrafa vieram do Uruguai, não da Argentina. O Grappamiel, como contei, é uma bebida engarrafada que já une em si um coquetel – leva em sua composição grappa, uma aguardente de uva, e mel, que todo mundo sabe o que é. È docinho e perigoso, bom pra tomar gelado – e trouxe muito na curiosidade de tentar experimentar para ver que bons drinks com gostinho da Ciudad Vieja dá pra inventar.
Medio y Medio
Também da Ciudad Vieja eu trouxe uma garrafa de Medio y Medio, uma combinação de vinho branco e espumante que é típica das comemorações de fim de ano no Uruguai, e também do Mercado del Puerto – ponto turístico em que quase todo viajante acaba sucumbindo a uma carne gostosa saindo da parrilla. Tem gente que fala que é doce demais, ou enjoado, mas eu ainda não tomei. Vai ter que esperar uma boa oportunidade. Tanto Medio y Medio quanto Grappamiel foram garrafas que eu comprei no mercado, em torno de R$ 50 cada uma.
O que eu deveria ter trazido
Claro que tem sempre alguma coisa que a gente esquece ou acaba deixando de lado. No meu caso, tem duas garrafas que também deveriam ter vindo na mala, mas a grana acabou e o peso já tava grande. Uma é o Amargo Obrero, um amaro bem raiz bebido por tudo que é canto – e de preço bem irrisório, cerca de R$ 10 por uma garrafa. Lembrei dele quando vi o rótulo, bem típico, na cozinha das casa das avós de Fito Paez na série El Amor Después del Amor, que acabou de estrear na Netflix e é altamente recomendável. Outra é o Principe de los Apostoles, gim do pessoal da Floreria Atlantico que é bem gostoso, obrigado, e custa em torno de R$ 60 a garrafa. Vale conferir, inclusive nas diferentes versões.
Lojas de Discos
Parece até que a gente não ia falar delas, né? Poxa vida: os discos vem até antes dos drinks no nome da newsletter. Aqui, aproveito abaixo para deixar algumas indicações de disquerías em Buenos Aires – em Montevidéu, até encontrei algumas lojas, mas nada que chamasse a atenção pela curadoria ou pelos preços.
Na região do centro de Buenos Aires, naquela área entre calle Florida e o começo da Avenida Corrientes, tem uma cacetada de lojas mais antiguinhas, com muita coisa empoeirada. As mais legais delas são a Cinema Records – que estava uma bagunça, mas foi onde achei meu LP do El Amor Después del Amor – e a Cactus Discos, onde paguei uma pequena fortuna para trazer os dois discos que eu mais queria pra casa: Clics Modernos, do Charly García, e La Dinastía Scorpio, do El Mató a Un Policia Motorizado.
Ali no centro, na esquina da Corrientes com a Callao, tem ainda uma filial da Zivals, livraria que vende vários discos novos a preços módicos – paguei cerca de R$ 100 num Piano Bar do Charly García e no Eco, do uruguaio Jorge Drexler. Na Corrientes, partindo do Obelisco em direção ao bairro, vale ainda fuçar por sebos de livros e lojas de camisetas de rock, viu?
Para quem vai a San Telmo, seja para ver a feirinha dos domingos, o Museu Moderno ou tomar um trago no El Federal, a Eureka Records é parada obrigatória. Com discos coloridos no teto e um simpático pôster do Elvis no topo, ela tem de tudo um pouco: de coisas novas a discos bem antigos, passando por CDs, fitas e até camisetas de artistas locais. Na outra viagem, foi lá que arranjei meu Artaud do Pescado Rabioso. Nesta, trouxe um CD 9 Lunas – a versão em espanhol do disco 9 Luas, dos Paralamas do Sucesso.
Já na região de Palermo, tem três lojas bem bacanas. No coração de Palermo Viejo, bem no meio da calle Jorge Luis Borges, a El Tempo de Borges é pequenininha, mas tem muita coisa e bons preços – foi lá que eu consegui achar o CD Dos Margaritas (a versão em espanhol do Severino), dos Paralamas, para o Marcelo Costa. A poucas quadras dali, também fica a Exiles Records, uma loja minúscula, mas cheia de coisas boas – ainda que os preços ali fiquem um pouco acima da média. De lá, trouxe La Sintesis O’Konor, do El Mató, mas também um Caymmi que faltava na coleção e o primeiro disco da Fafá de Belém, Tamba Tajá, por meros R$ 30.
Pra fechar, um pouco mais afastada, na vizinhança de bares como o Nola e o Desarmadero, está a Smile Discos – que antes ficava em Palermo Viejo. Já contei aqui que foi a loja que me fez amar Spinetta e entender o tamanho do Charly García. A mudança de endereço deixou a loja menos especial, mas o atendimento atencioso e uma boa coleção “de tudo um pouco” mercem a visita.
E agora vamos finalmente voltar ao Brasil, hein?
Para fechar, os reclames da semana, sempre eles!
No Programa de Indie, prestamos especialíssima homenagem a Rita Lee – que obviamente ia achar essa história de tributo uma baboseira. Lembrando sempre que Rita Lee foi o número 1 desta newsletter.
Essa semana tem C6 Fest aqui em São Paulo e uma das principais atrações é a cantora britânica Arlo Parks, que tem disco novo pintando aí na semana que vem. Eu conversei com ela pro Scream & Yell por 15 minutos e o resultado ficou, ó, show de bola!
Em Cajuína, tem uma matéria minha sobre grupos de afinidade – organizações dentro das empresas que ajudam pessoas minorizadas a dividirem suas experiências e são um pilar cada vez mais importante da área de diversidade, equidade e inclusão.
E pra fechar, uma notícia de parar as máquinas!
– o homem por trás de um dos livros da minha vida, O Clube dos Corações Solitários – voltou a escrever. Vai lá na conferir o que ele tem a dizer e já aproveita para se inscrever, viu?
Semana que vem, a gente volta a falar de drinks e discos de uma forma mais integrada, eu prometo. Mas vai ter uma surpresa! Até quinta-feira!
Um abraço,
Bruno Capelas
PS: Essa newsletter foi escrita ao som de Somethin’ Else, do saxofonista americano Cannonball Adderley – além dele, o quarteto que o acompanha no disco inclui só Miles Davis no trompete e Art Blakey na bateria. Fino demais, né? Foi dica do Marcelo Costa, o pai do Martín e do Scream & Yell, no que ele tem chamado de Desafio Scream & Yell. A primeira edição foi com o grande António Variações, de quem a gente já falou aqui. Sinceramente, acho o Desafioum baita negócio legal pra virar newsletter – e se você acha que o Mac devia ter uma news também, vai lá encher o saco dele nas redes sociais.
PS2: Eu juro que achei que esse texto quase não fosse sair. Colocar a vida em ordem depois de 45 dias na estrada tem sido um desafio – equilibrando frilas, reformas, idas a diferentes médicos e, claro, encontros para a saudade dos amigos. Mas de algum jeito, ele saiu (e espero que seja útil para quem está indo viajar).
PS3: A notícia mais legal eu deixei pra contar no final. Desde semana passada, nosso balcão de bar já tem mais de 1 mil pessoas inscritas.
Feliz demais de chegar aos quatro dígitos com vocês – e melhor que isso é saber que vocês seguem lendo, trocando ideia e acompanhando o que eu tô escrevendo, mesmo quando eu saio de férias ou fujo do tema. Prometo que as próximas horas semanas serão muito boas (e espero ter tempo para implementar uma ou outra novidade por aqui). Torçam por mim. E obrigado, obrigado, obrigado, sempre. Beber sozinho é chato demais, beber com tanta gente é uma delícia <3
O Ariel me apresentou o La Fuerza e adorei! Teus textos seguem um sopro de oxigênio fundamental no cérebro para dias conturbados 😘
Estou por aqui desde a edição #001 e fico feliz demais com o reconhecimento do seu trabalho, Bruno!