Guia de Bares em São Paulo, vol. 2: mais 11 lugares para curtir 'uns bons drink'
Após uma lista bastante pessoal, outro manual para explorar novos paladares, banquetas clássicas, sabores latinos, ingredientes locais e ótimas batidas de coco

No começo de 2024, cometi a empáfia de escrever um Guia de Bares de São Paulo – contendo não os melhores lugares, mas sim aqueles favoritos que eu cultivei durante anos. Pois bem: como miséria pouca é bobagem, cá estou eu novamente com uma nova lista de mais 11 bares que visitei ao longo do último ano e que merecem uma recomendação fina, elegante e sincera. Alguns bares são novos, outros são clássicos de uma cidade que parece que nunca deixará de ter balcões incríveis pra gente visitar – e até por isso eu diria que é impossível escolher uma lista de melhores bares.
Mais do que só o caráter temporal, a lista que apresento a seguir também tem tipos diferentes de bar – do boteco de bairro ao mais fino dos experimentos mixologistas – e é mais bem distribuída geograficamente que a anterior. A predileção pelo circuito Centro-Santa Cecília-Pinheiros prossegue, mas há também representantes do Mandaqui, do Cambuci, da Pompeia e da Bela Vista, para variar um bocado. É algo que tenho me proposto fazer ultimamente: aproveitar que preciso ver um show ou cumprir alguma missão (como visitar a contadora ou fazer algum frila) para conhecer um novo bar.
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Lembro ainda duas coisas: a primeira é que todas as contas foram pagas por mim mesmo (e visitar novos bares para textos como esse é um dos motivos pelos quais eu convido os convivas a assinarem esta newsletter). A segunda é que este guia não é filho único: além da primeira edição de São Paulo, temos ainda guias de bares em Belém do Pará, Buenos Aires e Montevidéu. E com as malas prontas para viajar pelo Brasil nos próximos meses, com paradas já programadas em Uberlândia, Rio de Janeiro e Porto Alegre, quem sabe não pintam outras edições em breve?
Regô

Dar vida nova ao centro de São Paulo é uma das bandeiras políticas que eu mais abraço na vida cotidiana – e visitar o balcão do Regô é uma das formas mais deliciosas de fazer isso na prática. Comandado por Luiz Felippe Mascella (olho nesse sobrenome), o bar de decoração industrial ocupa uma simpática esquina na rua Rego Freitas, misturando coquetéis autorais com clássicos nem sempre óbvios.
Quando fui lá, lembro de me divertir demais com um drink que jurava ser improvável, mas é delicioso ao paladar: um Trinidad Sour que leva nada mais nada menos que 50 ml de Angostura (aquele bitter que normalmente a gente só coloca um jatinho ou dois na bebida). Vale o aviso: não é um bar barato, nem para comer nem para beber, e costuma render fila na porta, mas vale demais a visita.
Rua Rego Freitas, 441 - República
Instagram: @ao.rego
Cascasse il Mondo
Depois de trabalhar seis anos no Google e coordenar times no Fasano, Renato Villas Boas Perito abriu o charmoso Cascasse il Mondo (“que caia o mundo” em italiano, dizem minhas aulas do Duolingo) em meio às ladeiras da Pompeia. O lugar fez tanto sucesso que não só tem um menu interno, como também um menu para a fila de espera.
Numa noite de sábado, foi assim que provei o excelente Cupuaçu Daiquiri (R$ 42), que junta licor de cupuaçu à clássica trinca rum-xarope-limão. A cozinha também tem destaques. E é preciso ressaltar o fato de que o bar também dispõe de bartenders munidos para os clássicos: lá, pedi um Adonis mais que correto que me inspirou a escrever uma coluna aqui na newsletter há uns meses.
Rua Tucuna, 724 - Pompeia
Instagram: @bar.cascasseilmondo
Bar do Luiz Fernandes
Clássico é clássico e vice-versa, já dizia o poeta: fundado em 1970, depois de ser por décadas um armazém de secos e molhados, o Bar do Luiz Fernandes é uma verdadeira instituição da Zona Norte. Também, pudera: tem excelentes batidas (a de coco, alcóolica no ponto, conquistou meu coração), cerveja gelada, decoração exagerada (cheia de detalhes de futebol, com direito a alguns autógrafos de Pelé) e bolinhos incríveis.
Ah, os bolinhos… eles são o principal motivo para ir ao Luiz F. não só de goela seca, mas também de barriga vazia. O clássico é o bolinho de carne (R$ 8), mas a lista de criações da Dona Idalina, a mulher do já saudoso Luiz, vai longe. Da lista, recomendo demais o Basco (carne de bochecha, massa de batata e farinha panko, R$ 12), o Braga (feito com alheira, R$ 12) e o Mineirinho (um pão de queijo recheado com pernil e queijo meia cura, R$ 12). Vale a pena também passear pela estufa cheia de iguarias. E procure chegar cedo: fui numa sexta-feira por volta das 17h e quase não encontrei lugar pra sentar.
Rua Augusto Tolle, 610 - Mandaqui
Instagram: @bardoluizf
A Juriti

“Rainha dos aperitivos e dos frutos do mar”. É assim que, em um letreiro modesto, A Juriti se apresenta aos seus frequentadores desde 1957. Quem passar na frente talvez não dê muita bola para o clássico boteco do Cambuci. Mas basta entrar e pedir uma cerveja gelada (dos rótulos comerciais, nada de artesanal dessa vez) e passar uns minutos por ali para entender que o negócio é diferente.
Com grande número de frequentadores do próprio bairro, A Juriti é um daqueles bares em que o tempo não passou, cheio de iguarias muito próprias: a rã frita tem um empanamento caprichado, enquanto os pastéis e os rollmops tem sabor especial. Para beber, aposte na gelada, num bom e velho vermute ou na batida de coco. E olha que eu nem falei da linguiça Joana D’Arc, feita flambada na cachaça, por um motivo muito singelo: não experimentei para ter um motivo para voltar assim que for possível. Para ir uma vez e entrar na lista de botecos favoritos da vida.
Rua Amarante, 31 - Cambuci
Instagram: @ajuriti__oficial
Espaço Zebra
Isso aqui, iôiô, é um bocado de Brasil, iaiá: criado pela jornalista e bartender Néli Pereira (autora do incrível Da Botica ao Boteco, manual de todas as horas para quem se inicia na coqueteleira), o Espaço Zebra é a realização prática das pesquisas feitas por Néli ao longo de anos e anos.
É uma parada obrigatória para quem quer beber dos sabores da nossa terra – de um Boulevardier temperado com cogumelos yanomamis a um delicioso drink sobremesa que combina cupuaçu, cacau e limão. Mas falar só do que está dentro do copo é pouco: em um salão amplo, o Zebra combina instalações de arte, ótima trilha sonora, bons quitutes e tem até um varandão charmoso para dias mais frescos. Tem que ir.
Rua Major Diogo, 237 - Bixiga
Instagram: @espacozebra
Banqueta Bar
Confesso que à primeira vista não dei muita bola para o Banqueta quando entrei nele junto do Marcelo Costa faz uns meses: o objetivo era só tomar alguma coisa para matar o tempo enquanto um show não começava ali no vizinho Bar Alto. Mas fomos surpreendidos: em sua filial na Vila Madalena (a casa originalmente fica em Moema), o bar trata com muito carinho ingredientes dos cinco cantos do Brasil, usando e abusando de ingredientes como cupuaçu, cajuína, buriti, cambuci e uvaia.
Dessa turma, gostei bastante do Odorata (com Jack Daniel’s, brandy de jerez, amaro, bitter de cacau com cumaru e óleo de castanha do Pará, R$ 39) e do Kãmuci, que leva… cambuci, claro. O menu de clássicos também é bastante abrangente, do popular (Maria Mole) ao menos usual (French 75). Além disso, vale o aviso: o cardápio de comida tem preços bem atraentes.
Rua Aspicuelta, 202 - Vila Madalena
Instagram: @banqueta.bar
The Punch
Cardápio? Pra quê cardápio? Escondido em uma galeria perto da Avenida Paulista e com lotação quase sempre máxima, o The Punch é um tipo de bar diferente do que muita gente está acostumada. Lá, são poucas cadeiras, não há menu e os pedidos são feitos quase sempre a partir de uma conversa com os bartenders, comandados por Ricardo Miyazaki – designer de formação e ex-executivo de uma montadora japonesa.
Via de regra, os coquetéis giram em torno dos R$ 60, mas são feitos com uma tal precisão que é difícil reclamar – por lá, tomei um dos melhores Porn Star Martinis da vida, só para ficar em um exemplo. É daqueles bares mais exclusivos, voltados para dias especiais, mas que merecem – e muito – a visita. Mas é importante ressaltar: vá de estômago cheio ou com um lugar pra jantar já em mente, porque aqui os petiscos são praticamente inexistentes.
Rua Manoel da Nóbrega, 76, loja 17 - Paraíso
Instagram: @thepunchsp
Picco
Lembra que eu falei pra vocês guardarem o sobrenome Mascella? Pois é: além do Regô (e do Terê, que eu quero visitar em breve), a família também comanda outra carta de drinks das mais bacanas de São Paulo na atualidade, a do Picco. Lá, quem dá as cartas é Luiz “Lula” Affonso Mascella, em um menu que tem clássicos, mas que merece mesmo atenção por seu cardápio autoral.
Ao lado de boas pizzas e petiscos que saem do forno, o Picco tem coquetéis nada triviais como o Cupuasour (cachaça, cupuaçu, cumaru e cacau, R$ 39, com álcool bem presente), o Mami #3 (jerez, shitake, vermute e café, R$ 47, digno de discos da Rosalía) ou o Capresini (vodka, tomate, vermute, mussarela de búfala e manjericão, R$ 47). Outra ideia bacana é que, tal como nas cervejarias artesanais, dá pra pedir uma régua com versões menores de vários drinks por R$ 54 – uma pedida que deveria se popularizar por aí. Para os solteiros, vale ainda o aviso: é um daqueles bares bons pra impressionar no primeiro date. Ou segundo. Ou centésimo.
Rua Lisboa, 294 - Pinheiros
Instagram: @o.picco
Chévere
Para quem vive no circuito Centro-Zona Oeste, talvez não seja exatamente um segredo que a Barra Funda é um dos bairros mais legais dos últimos tempos – e a rua Souza Lima um dos epicentros dessa conversa. Mas em meio a Cervejaria Central, A Dama e Os Vagabundos, Trago e outros bares cheios de gente, meu favorito dos últimos tempos é o simpático Chévere. Há vários motivos para isso: ele é mais tranquilo e menos barulhento que os vizinhos, tem um atendimento amigável e uma pegada latina que vai bem melhor que um blues.
Na cozinha, gosto muito das empanadas de sabores variados. Já no cardápio de coquetelaria, boa oportunidade para explorar bebidas cujos paladares vão do Nordeste ao Cone Sul, com opções interessantes regadas a Fernet, vermute, cajuína e cachaça. O mais bacana, porém, é experimentar os drinks com Singani, uma aguardente destilada com base em uvas bastante popular na Bolívia – uma espécie de prima tanto do Pisco quanto do vinho Moscatel. Delícia.
Rua Souza Lima, 321 - Barra Funda
Instagram: @cheverecozinhaebar
Cervejaria Duas Irmãs
Se você estiver num dia bastante inspirado, pode juntar o Chévere, esta dica e a próxima em um passeio só – numa espécie de pub crawl heterodoxo entre Barra Funda e Santa Cecília. A Duas Irmãs, como o nome diz, é uma cervejaria e tem em sua carta títulos artesanais de produção própria que não fazem feio. Mas, toda vez que vou lá, prefiro mesmo a irresistível batida de coco (R$ 7, docinha de tudo e perigosa para os distraídos) e os coquetéis (como o Rabo de Galo a R$ 14) do que as cervejas.
A comida também ajuda: tudo vem das estufas, sejam frias ou quentes. A ambientação é divertida, como uma homenagem aos bares de vila de antigamente, com direito a fichas e cardápio escrito com giz na parede – embora os mais tradicionalistas possam argumentar que é um “cosplay de boteco” (e vá lá, eles têm alguma razão).
Al. Ribeiro da Silva, 776 - Campos Elíseos
Instagram: @cervejariaduasirmas
Joio Cocktail Bar

Para fechar essa lista, o mais novo dos bares aqui apresentados: o Joio Cocktail Bar nasceu no segundo semestre de 2024, num sobrado residencial ali na fronteira entre Santa Cecília e Campos Elíseos. Ele é vizinho do Parque Savoia – que os fãs de Castelo sabem bem que é o “local ficticio” do castelo da Morgana. Tem petiscos simpáticos, decoração despojada e uma carta de coquetéis bastante interessante, com clássicos pouco frequentes por aí (como o Aviation, um dos favoritos da casa).
Isso pra não falar das releituras divertidas e caóticas. É o caso do Spiced Pear Margarita, que leva não só tequila infusionada com pêra como também um acompanhamento de sorvete de gorgonzola (sério). Ou do Capim Sour, uma releitura do New York Sour com direito a cachaça infusionada com capim limão. Divertido, barato e despretensioso, como às vezes a boa coquetelaria precisa ser.
Rua Vitorino Carmilo, 449 - Santa Cecília
Instagram: @joiococktailbar
Reclames da Quinzena
Nas últimas duas semanas, o Programa de Indie trouxe novidades da música alternativa em fevereiro, com gente como Fontaines DC, Terno Rei e Terraplana dando as caras, além das comemorações dos 40 anos de Meat is Murder, o clássico segundo disco dos Smiths.
No Scream & Yell, além da versão em texto da entrevista que eu e o chapa Igor Muller fizemos com Jody Stephens, do Big Star, também escrevi sobre os shows de Sting, Linda Martini e da maravilhosa banda The Cigarettes em São Paulo.
Estendendo a vida de frila, fiz também minha primeira colaboração para o Startups.com.br com um assunto velho conhecido: startups de patinetes elétricos. Sim, pois é: elas estão de volta a São Paulo. Aqui você pode entender mais.
Em Cajuína, tem uma entrevista minha com a Cristiane Costa, da BRF, falando sobre o uso de inteligência artificial dentro do RH da empresa – mais do que espuma, é uma conversa com boas ideias e bons resultados sobre a tecnologia.
Pra fechar a conta: lá no YouTube tem vídeos não só dos três shows citados acima, mas também de Vapors of Morphine tocando no Sesc Jundiaí, em um dos espetáculos mais legais da temporada.
São muitos os bares pra se visitar em São Paulo. Eu sei que você deve ter acabado de ler esse texto pensando: pô, mas falta aquele… Qual? Me conta nos comentários!
Se você quiser dar um incentivo para eu visitar mais bares, pode assinar a newsletter ou mandar um singelo PIX pra meusdiscosmeusdrinks@gmail.com. Prometo que vou usar o dinheiro de maneira responsável!
No mais, tenham saúde e aproveitem o Carnaval.
Um abraço,
Bruno Capelas
PS: Este texto foi todo apurado em São Paulo, mas finalizado em Uberlândia, entre as comemorações do aniversário da
. Quer dar um presente atrasado pra ela? Então assina a – uma verdadeira caixinha de surpresas na sua caixona de entrada, entre textos falando sobre morte e dicas de animais para seguir no Instagram. Prometo que vale a pena.PS2: Neste ano, rompi com uma tradição: escrever um texto sobre um drink de Carnaval. A verdade é que estou menos carnavalesco do que nunca – a despeito de estar pensando demais sobre o Brasil, como vocês viram na última edição. Mas para quem sentir falta desse tipo de conteúdo, deixo aqui três sugestões: Cartola com Caipirinha, Jorge Ben com Corpse Reviver e FBC com Xeque-Mate.
PS3: Ainda no capítulo Carnaval, deixo aqui algumas recomendações. Se você foi viajar e quer se manter bebendo bons drinks, o Guia Rápido da Coquetelaria de Improviso pode ser uma ótima dica. Para quem vai pros bloquinhos e quer evitar a Skol Britney, usar um cantil ou uma garrafa Stanley com bebidas pré-prontas pode ser uma boa ideia – mas eu evitaria coquetéis com muito limão (por conta do risco de manchas causadas pelo sol) ou extremamente alcóolicos (para não passar mal). Quer ideias? Então aproveita o índice!
PS4: Além de ser dia de Oscar, domingo de Carnaval e quartas-de-final do Paulistão, dia 2 de março também é meu aniversário. Também abri mão da ideia de escrever um texto sobre o assunto porque às vezes acho que vocês já cansaram dos meus textos falando sobre envelhecer ou qualquer coisa do tipo. Mas pra quem quiser me dar um presente, reforço: aceito uma assinatura na newsletter, um abraço, uma garrafa de Pisco ou um PIX. Cês escolhem. <3
PS5: A vida presta. Na próxima vez que a gente se falar nessa newsletter, torço para que o Brasil já tenha um Oscar (ou dois!) pra chamar de seu.
Pô, essa edição chegou em momento providencial. Em abril, depois de dois anos, passarei por São Paulo.